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À Espera da Liberdade


Em 1914 o governo da república portuguesa, pressionado de fora e de dentro, exposto à censura da imprensa internacional, decretou uma amnistia para os presos políticos. A campanha da imprensa estrangeira, que dedicava desveladas atenções aos presos políticos portugueses, tocara os dirigentes republicanos no seu ponto mais sensível. Se havia coisa de que se ufanavam era de serem os representantes em Portugal das ideias modernas e dos ideais humanitários dos povos mais “civilizados”. Mas em vez das palavras elogiosas que ambicionavam ler na imprensa francesa, inglesa ou alemã, o que encontravam com deprimente frequência eram denúncias de prisões injustificadas e de maus tratos aos presos políticos. A diplomacia republicana em Londres (Teixeira Gomes), em Paris (João Chagas), em Berlim (Sidónio Pais), procurava conter a indignação dos grandes periódicos, desmentia, pressionava, tentava seduzir os directores de jornais, mas estes, por razões que os diplomatas achavam incompreensíveis, davam mais crédito aos artigos dos seus correspondentes em Lisboa que às descrições adocicadas dos agentes da república. A classe política republicana, que tanto ambicionara a aclamação internacional dos seus altos ideais revolucionários, via-se retratada na imprensa estrangeira como um grupo de fanáticos sem escrúpulos que prendia e torturava os seus adversários políticos.

À campanha da imprensa estrangeira responderam as autoridades da república com alguma contra-propaganda, mas dentro do republicanismo português foi ganhando forças o grupo que pedia uma amnistia para todos os “crimes” políticos. Muitas das grandes figuras do novo regime entendiam que não era crime ser-se monárquico e reconheciam que o clima de violência política era em grande parte obra dos seus correligionários. O grupo que clamava insistentemente por uma amnistia tinha à cabeça altas figuras do regime, como o Presidente da República Manuel de Arriaga, o chefe do Partido Evolucionista, António José de Almeida, e o próprio fundador da república, Machado Santos. Este último, tendo em conta a situação de guerra que atravessava a Europa, ia ao ponto de pedir a amnistia de todos os monárquicos e a imediata nomeação de alguns deles para cargos de grande responsabilidade: Paiva Couceiro para governador de Angola, João de Almeida para governador da Huíla.
Finalmente em Fevereiro de 1914 o Congresso da República aprovou a lei da amnistia. Esta medida de apaziguamento das paixões políticas teve o privilégio de ocupar grandes espaços na imprensa europeia.

Carlos Bobone

Fotografia no topo: “L´Illustration”, Fevereiro 1914 – Os presos políticos e as suas famílias, no corredor da penitenciária de Lisboa, esperam que lhes abram as portas.