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Tempos e Costumes


in “O Homem, a Ladeira e o Calhau”, de Agostinho de Campos, 1915

Um jornal republicano (O Mundo de 24 de Março de 1915) diz a respeito daditadura do conselheiro João Franco: “Tendo tomado uma feição revolucionária etendo sido violentamente combatido, não demitiu um só funcionário do Estado que exercesse lugar vitalício. Muitos dos seus mais intransigentes adversários, monárquicos e republicanos, eram funcionários públicos, mas nenhum foi por esse motivo destituído”.
Isto é perfeitamente exacto e eu posso confirmá-lo como testemunha presencial,por ter tido a meu cargo durante aquela época a administração da Instrução Pública, que era uma das mais importantes e das mais minadas pela oposição revolucionária. Mas convém acrescentar a esta verdade outras não menos dignas da atenção dos filósofos e do registo da História.
Convém lembrar que a ditadura franquista, assim como não tirou a ninguém o seu lugar vitalício, e apesar do regime de arruaça permanente que os seus inimigos lhe criaram na rua, também foi branda e cuidadosa na repressão da desordem. Dos repetidos choques entre a polícia e os manifestantes resultaram, em oito meses, apenas uma ou duas mortes, o que se não compara com a simples chacina de S. Domingos, nos tempos ultraparlamentares do Sr. Ferreira do Amaral, e com o regime de homicídio político frequente que nos tem fornecido a República.
Convém dizer que a ditadura franquista só atacou a liberdade corporal dos seus inimigos, quando estes resolveram opor-lhe a Revolução armada, flagrante e patente, embora só mais tarde confessada e glorificada.
Em 28 de Janeiro de 1908 foram presos uma dúzia de caudilhos; mas todos eles reconheceram logo a seguir, e agradeceram, a bondade e humanidade dos seus carcereiros. Só depois de 5 de Outubro, instaurado o regime dito”verdadeiramente nacional e democrático”, é que se viu a grande emigração política, e o capuz penitenciário vestido aos réus de crimes de consciência, e os presos por conspiração cuspidos, chibatados e esbofeteados nas ruas do trânsito.
A ditadura franquista suprimiu jornais, mas nunca mandou suprimir redacções, nem tipografias. Só depois de raiar a Liberdade é que naturalmente se permitiu a cólera cívica assaltar as oficinas da Imprensa que não agradava ao Governo e roubarem-lhe os assaltantes a mobília e os haveres, para os irem vender civicamente, e civicamente meterem o dinheiro no bolso.
Estes contrastes são duros e pesados, e não admira que o sejam. São as primeiras pedras com que se há de construir um dia a inevitável estátua de D. Carlos I.Março de 1915

Na imagem: brigada da Formiga Branca, na Rua do Arsenal

* Contributo do Professor Mendo Castro Henriques, com os nossos agradecimentos.