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A emancipação da mulher aos olhos dos “Democráticos” de Afonso Costa


Ao contrário do que a propaganda apregoa, a emancipação da mulher nada teve que a ver com regimes, republicanos ou monárquicos, e em Portugal tratou-se antes duma coincidência cronológica (as mulheres adquirem direito ao voto em 1931 já sob a república de Salazar), um fenómeno civilizacional transversal no ocidente liberal judaico-cristão.  Mas afinal, como era a mulher encarada pelos revolucionários republicanos? Ora leiam  esta pequena  pérola autoria de Gonçalves Costa publicada em 1913 no jornal Humanidades de Coimbra conotado com o Partido Democrático de Afonso Costa:

A mulher, razão da existência de muitos homens, adorado símbolo da virtude e da pureza, objecto patético do ideal e do sonho, síntese, delicada da beleza nas suas modalidades mais emocionantes, a mulher estímulo de muitas actividades, causa suprema das mais divinas inspirações, única de mil tragédias, a mulher o perfume, a mulher o crime, vai hoje também cair sob o nosso inexorável bisturi. Percorrendo as páginas da sua história através os tempos, ela surge-nos aqui causa originária de um imenso rosário de tragédias e de crimes, alem manancial de amor e de inspiração, guindando as mais sublimes concepções poética, os mais fecundos génios. (…)Podemos ser cruel joeirando a poeira que lhe conspurca a personalidade, todavia como vêem o reverso da medalha patenteia-nos gestos que inspiram ao mesmo tempo piedade e simpatia. O que não podemos contestar é que ela tem apetites muito variegados e estômago para digerir com o mesmo custo frutos bons e frutos venenosos. (…)(…) A mulher de hoje, sobretudo aquela que vegeta nas cidades onde há cheiros de civilização, não é a mulher como devia ser, nem tão pouco parece aproximar-se da devida meta, é uma mulher manequim, chapa aonde os holofotes das. casas de modas de Paris e de Londres projectam as linhas caprichosas dos seus figurinos complicados. E’ uma mulher falsificada, pretensiosa, entalada em rígidas lâminas de aço, e aumentando sensivelmente o seu peso real com alguns quilos de algodão que lhes retocam as deficiências do físico.

Mulheres manifestam-se em S. Bento(…) Muito se tem escrito acerca da educação da mulher, criticando as suas aberrações, traçando de varias formas qual deveria ser o seu trajecto na vida social. Uns querem arma-la com os pesados fardos dum soldado, outros que ela seja o que é, e ainda outros que ela se perca e agite no complicado labirinto da vida externa esquecendo os cuidados periódicos que reclama a sua débil constituição. E assim ela naturalmente sensível e instável em frente de tão divergentes opiniões respeitantes ao seu verdadeiro papel, move-se indecisa, hesitante no meio da vasta arena das suas manifestações acabando em geral por integrar-se resignadamente na situação primitiva.   Algumas vezes   protestando contra os preconceitos que a esmagam, com um gesto repulsivo, grita revoltada pela sua emancipação. E nesta palavra ela compreende a fuga do lar, a fractura   (cruel dos elos que a ligam ao esposo e  aos filhos e aí vai sob a impulsividade da enganadora corrente feminista. Tristes quimeras! Aneearido pela sua regeneração,  degenera-se. As mulheres na   (sua maioria são  verdadeiras crianças, com caprichos   singulares,  excêntricas exigências, são histéricas, nervosas, morbidamente tímidas, deploravelmente ignorantes.Em frente desta fotografia, o que pretendem as feministas, onde quer que elas existam?
Para disfarçar a sua infantilidade, os seus caprichos, as suas exigências, envergam um trajo tanto ou quanto possível semelhante ao do homem, para proteger o nervosismo, o histerismo, e a sua timidez, usam pistola e para acabar de vez com a ignorância, uma formatura. (…) Basta que ela saiba ser mãe para o que é preciso aprender. Uma parte desta sublime missão sabe-a ela instintivamente, outra desconhece-a geralmente - a educação dos filhos.Para isto é preciso despartilha-la; despi-la de muitos preconceitos  que a perseguem e gritar-lhe bem alto ao ouvido: não sacrifiques a tua saúde ao rigor artístico dos figurinos porque ao desenhista nada custou a manejar o lápis sobre um pedaço de papel! E acredita, mulher, que não há para ti mais exaltado ideal que o de ser boa Mãe.

João Távora, com Luís Bonifácio e Carlos Bobone